Ela não comprava balas no circo, gastava todo o seu dinheirinho com as fotos dos equilibristas e trapezistas, uma forma de levar o circo para casa, alimentar o seu sonho de voar, desafiar os abismos, lá onde moravam os seu medos.
E voava por semanas com as fotos expostas em seu quarto, até que uma nova brincadeira de quintal aquietasse seus planos de fugir com a trupe.
Dos palhaços não guardava fotos, o riso solto que expressava alegrias e escondia tristezas estava sempre ali, impregnado na alma, havia roubado do primeiro palhaço que conhecera.
Roubara deles também a ingenuidade chapliniana, que lhe conferia sensibilidade, a feição dos bobos sonhadores e o status de destrambelhada.
Lona ao vento, traçou seu norte, mergulhou em futuros. E aprendeu que é preciso força para sobreviver às quedas no vazio, coragem para encarar os medos e uma boa dose do humor e da esperteza velada dos palhaços para reinventar-se e resistir.
O circo sempre foi e sempre será a sua grande metáfora...